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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

(continuação) TRATAMENTO

Drauzio – Como você orienta os casos de pessoas com tiques ou com tiques acompanhados de incontinência verbal?

Ana Gabriela Hounie – Só se costuma medicar esses casos se forem graves e acompanhados de muito sofrimento. Havendo problemas associados, como baixa estima, por exemplo, indica-se também psicoterapia cognitivo-comportamental.

Drauzio – No tratamento medicamentoso, quais são os remédios mais indicados?

Ana Gabriela Hounie – Os de maior ação são os neurolépticos, também chamados de antipsicóticos, o que não significa que o tique seja uma psicose. Como essas medicações têm efeitos colaterais adversos, costuma-se tentar primeiro outras que não são tão eficazes, mas que podem ser bem mais seguras, como os remédios para pressão alta à base de clonidina.

Drauzio – Como costuma ser a resposta a esses remédios com menos efeitos colaterais?

Ana Gabriela Hounie – Em 60% dos casos, eles são eficazes, mas em 30% é preciso usar os que provocam mais efeitos colaterais. Pode-se, ainda, fazer combinações de medicamentos, dependendo dos problemas associados ao transtorno obsessivo-compulsivo, como tiques, hiperatividade, déficit de atenção.

Drauzio – Que efeitos colaterais provoca a medicação mais forte?

Ana Gabriela Hounie – Sedação, sonolência, falta de concentração, um pouco de depressão são alguns dos sintomas. Entre os neurolépticos antigos, o efeito colateral mais grave é o risco alto de cinesia tardia, um transtorno do movimento irreversível na maior parte dos casos. Por isso, nos Estados Unidos eles deixaram de ser a primeira opção de tratamento medicamentoso. Atualmente, tentamos usar neurolépticos atípicos de menor risco. O problema é que se trata de uma medicação muito cara o que dificulta muito seu uso pela população em geral.

Drauzio – O tratamento com esses neurolépticos mais antigos pode provocar alterações motoras. Isso quer dizer que a pessoa troca os tiques por outro tipo de alteração motora?

Ana Gabriela Hounie – Nem sempre, mas é um risco que se corre.

Drauzio – Qual o papel da psicoterapia nesses casos?

Ana Gabriela Hounie – Para os tiques existem técnicas de reversão de hábitos, uma tentativa de fazer com que um sintoma socialmente inaceitável, como falar palavrão, seja modificado. Recentemente, vi o caso de uma criança que conseguiu fazer um acordo com o terapeuta. Quando viesse o impulso de falar um palavrão, ele seria dito em outra língua, em chinês, por exemplo. Como provavelmente quase ninguém entenderia o que foi dito, o problema estaria em parte resolvido porque, se o palavrão não fosse socialmente inaceitável, não haveria inconveniente algum em soltá-los no meio das frases.

Para a criança é muito importante sentir-se aceita tanto pela família quanto pelo meio em que vive. Por isso, a informação é fundamental para que não seja necessário medicar essas pessoas que estão sendo socialmente reprimidas. Crianças podem viver felizes apesar dos tiques, a não ser que sejam dolorosos. Algumas acabam lesando a coluna de tanto que mexem o pescoço ou provocam lesão na córnea enfiando repetidas vezes o dedo nos olhos. Esses são tiques graves que exigem medicação específica.

Drauzio – Pode-se dizer que essas pessoas que arrancam pelos do corpo têm tique?

Ana Gabriela Hounie – A tricotilomania é um problema também associado aos tiques. Nem sempre a pessoa tem consciência do que está fazendo. Pode ser um gesto involuntário (quando percebe, já arrancou o pelo) ou uma compulsão. Precisa arrancar um fio de cabelo, por exemplo, para evitar que algo de mau lhe aconteça ou, se arranca de um lado tem de arrancar do outro para manter a simetria e a perfeição. Por isso, é sempre importante investigar qualquer fenômeno para estabelecer um diagnóstico preciso.

(continua abaixo)

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