Drauzio – Para ficar bem claro, vamos estabelecer a diferença entre o tique comum e a Síndrome de Tourette.
Ana Gabriela Hounie – O tique comum é muito frequente na infância. Até 20% da população infantil apresentam tiques na fase dos sete, oito ou nove anos. É uma manifestação transitória que tende a desaparecer naturalmente. Portanto, os pais não devem preocupar-se se virem as crianças piscando os olhos, botando a língua para fora ou repetindo algum movimento estranho. Entretanto, se o problema persistir por mais de um ano e começar a incomodar, pode-se pensar na possibilidade de a Síndrome de Tourette ter-se instalado.
Drauzio – Você disse que a Síndrome de Tourette tem sempre um tique vocálico associado.
Ana Gabriela Hounie — Tem sempre um som vocálico associado ao tique motor. Fungar ou fazer barulho com a garganta são exemplos de tiques vocais simples. Os complexos são mais elaborados. É a repetição de sílabas ou palavras e, em 30% dos casos, a repetição de palavrões.
Drauzio – Como se distribui esse transtorno pelas diferentes faixas etárias?
Ana Gabriela Hounie – Começa na infância, geralmente por volta dos sete anos de idade e a tendência é que diminua na idade adulta. Na verdade, em um terço dos casos o transtorno desaparece com o crescimento.
Na Síndrome de Tourette, quando a causa é genética, os tiques ocorrem na infância, quatro vezes mais nos meninos do que nas meninas. Não se conhece ainda a explicação para esse fenômeno, mas provavelmente fatores hormonais estejam envolvidos.
Drauzio – Pode-se adquirir o tique na idade adulta?
Ana Gabriela Hounie – Pode, mas é raro. Geralmente, quando isso acontece, é consequência de algum problema clínico, por exemplo, de trauma craniencefálico ou abuso de drogas, entre outros.
(continua abaixo)
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