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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

(continuação) PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Drauzio – Existe relação entre tiques nervosos e outras patologias?

Ana Gabriela Hounie – Em 30% dos casos, quem tem Síndrome de Tourette vai apresentar também transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e vice-versa. Isso nos faz acreditar que haja um tipo de transtorno obsessivo-compulsivo ligado a tiques que é transmitido geneticamente. Como o TOC com tiques (Síndrome de Tourette) e o TOC sem tiques são patologias diferentes e estamos à procura da causa genética, tentamos delimitar as diferenças desses transtornos para facilitar a pesquisa dos genes responsáveis.

Drauzio – O que caracteriza o transtorno obsessivo-compulsivo?

Ana Gabriela Hounie – O transtorno obsessivo compulsivo é um distúrbio mental que provoca problemas no processamento da informação e, como o nome diz, caracteriza-se por obsessões e compulsões. A obsessão é uma idéia intrusiva que vem à mente repetidas vezes e, por mais absurda que possa ser, é tão angustiante que a pessoa se vê obrigada a seguir certos rituais pondo em prática algumas compulsões. Pensa, por exemplo, que pegou Aids porque tocou na maçaneta da porta. Embora a idéia seja absurda, é tão aflitiva que ela lava as mãos um sem número de vezes para livrar-se da contaminação pelo vírus.

Drauzio – Qual é exatamente a diferença entre obsessão e compulsão?

Ana Gabriela Hounie – Obsessão é uma ideia ou imagem que ocorre repetidamente e parece estar fora de controle. Compulsão é o hábito que se cria para aliviar a angústia que essa idéia provoca. Existem pessoas que têm compulsão sem obsessão e outras, ao contrário, que têm obsessão sem compulsão, mas o mais frequente é ter as duas simultaneamente.

Uma pessoa apenas obsessiva tem medo de pegar na maçaneta da porta e contaminar-se com o vírus da Aids, mas não lava as mãos obstinadamente. Muitas até se deixam dominar por rituais mentais, criam fórmulas mágicas em sua cabeça para evitar contrair a doença, mas ninguém por perto percebe o que está acontecendo com elas.

No entanto, é fácil perceber as compulsões. Estão diante dos nossos olhos. A pessoa compulsiva dá dois passos para frente e um para trás, abre e fecha a torneira dez, vinte vezes e demora horas no banho. São comportamentos estranhos que podem ser observados, o que não acontece com as ideias obsessivas, muitas vezes mantidas em segredo, pois o próprio paciente as considera absurdas e sofre anos e anos a fio por falta de diagnóstico e tratamento.

Drauzio – As crianças têm um pouco desses distúrbios normalmente. Não pisam nas riscas do chão, ou não deixam de correr o dedo ou bater um pauzinho numa grade se passam ao lado dela. Quando você considera esse tipo de comportamento normal?

Ana Gabriela Hounie – Esse tipo de comportamento faz parte do desenvolvimento da criança e tem função psicológica na infância. O problema é quando se torna exagerado e traz sofrimento. Por exemplo, a criança não consegue responder uma única questão do dever escolar porque escreve, acha que não ficou bem feito e apaga, escreve e apaga, escreve e apaga outra vez. Tal comportamento extrapola os limites do aceitável e, sem dúvida, faz com que essa criança mereça atenção especial.

Drauzio – Nessa hora, em geral os pais reagem mal. Acham que a criança está se comportando assim porque é teimosa ou desobediente.

Ana Gabriela Hounie – É comum as crianças serem castigadas por esse tipo de comportamento e, não sabendo como enfrentar a dificuldade, sofrerem em segredo. Trabalhos mostram que, em média, entre o início da doença e o diagnóstico transcorrem de dez a quinze anos. Por isso, a importância de canais como este para alertar as pessoas de que existem tratamentos e alternativas para o problema e que procurar ajuda mais cedo evita sofrimentos desnecessários.


(continua abaixo)

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